Protagonismo negro em O quebra-nozes de chocolate
(Imagem da Netflix )
Por Clarissa Narai
Sonhar e dançar: O Quebra-nozes de chocolate, o novo documentário da Netflix dirigido por Oliver Bokelberg, acompanha a produção do espetáculo realizado pela Academia de dança Debbie Allen. Em sua adaptação, Allen transforma o Ballet russo original em um espetáculo de cores e ritmos, acrescentando novas formas de dança como o Hip Hop, sapateado, jazz e variações latino-americanas enquanto visita paisagens da Índia, Egito, China, entre outros.
O documentário alterna cenas de ensaios, entrevistas e os melhores momentos da carreira da atriz e dançarina Debbie Allen. Sua companhia oferece oportunidades a crianças e jovens, especialmente negras, que sonham em trabalhar com a arte apesar de suas situações econômicas.
O evento beneficente, em seu 10° ano de produção, já se tornou uma tradição para a equipe de mais de 200 alunos a partir de 4 anos e diversos atores profissionais. O enredo do clássico natalino “O quebra-nozes” se resume na história de uma garota que viaja para o mundo dos brinquedos.
O mundo do ballet sempre se caracterizou pela especificidade elitista e nada inclusiva. Além da busca por perfeição na técnica e na coordenação atingirem níveis absurdos, historicamente, há a necessidade de ser magra e branca. Para crianças, os conflitos com o próprio corpo começam cedo, junto com a necessidade e a pressão (parental ou pessoal) de estar sempre superando seus próprios limites. Por isso, há tamanha importância na representatividade de bailarinas negras e com diferentes tipos de corpos nos grandes palcos, e é isso que esse show apresenta.
“É incrível para a audiência ver a Rainha das Fadas como uma linda bailarina negra que voa para o palco, é algo que jovens nunca esquecerão. Especialmente jovens que nunca se viram nesse mundo particular.” Conta Debbie Allen.
(Imagem via: Netflix; Disponível em: https://coveteur.com/2020/12/11/debbie-allen-dance-dreams/)
Debbie Allen e suas alunas, protagonistas do espetáculo
Em uma indústria que, por mais de 200 anos, permitiu que bailarinas negras precisassem pintar suas sapatilhas com base para combinar com seu tom de pele, Debbie Allen faz história. É emocionante acompanhar a rotina de dezenas de crianças e adolescentes que encontraram o financiamento e, mais importante, a inspiração, para conseguir realizar suas paixões. E ainda, imaginar que novas crianças sejam motivadas a entrar no mundo da dança, onde serão aceitas por quem elas realmente são.
Ao fim do documentário, quando algumas das jovens bailarinas, que protagonizam papéis importantes no espetáculo, apresentam seus sonhos à câmera, surge o sentimento de esperança e a ideia de que, apesar de todas as dificuldades, cada esforço vale a pena. Além disso, espetáculo final enche a tela de diversão e beleza, instigando a vontade de assisti-lo pessoalmente.