Com representatividade e luta, Emicida mostra mais do que um show em “AmarElo – É Tudo pra Ontem”
Ana Paula Vergasta
Quem pensou que o novo documentário da Netflix, AmarElo – É Tudo pra Ontem, seria apenas o registro de um show estava muito enganado. A gravação da apresentação do rapper, escritor e ativista Emicida no Theatro Municipal de São Paulo é apenas a base para uma mistura de música boa com a historiografia da negritude brasileira, o processo de making-of do disco e uma análise autobiográfica e social.
O documentário, com produção de Evandro Fióti e direção de Fred Ouro Preto, é caracterizado por uma linguagem simples, sensível e didática. Nos 90 minutos de duração, a produção é construída, intencionalmente, para destacar uma narrativa: uma reflexão histórica sobre a luta do povo negro e sua imensurável contribuição para a formação da cultura brasileira.
A construção histórica, que conta com Emicida como personagem e narrador, evidencia acontecimentos e personalidades que foram responsáveis pela composição e perpetuação da cultura negra e, consequentemente, brasileira. Um dos pontos-chave é provar para o público que, apesar da inegável importância, essas personalidades não tiveram e ainda não têm o devido reconhecimento. Com o objetivo de reforçar a luta por igualdade e reconhecimento, o documentário reivindica os espaços culturais que sempre foram negados aos negros.
O filme também mostra todo o processo do making-of do disco AmarElo e das participações presentes nele. Além de trazer partes da história de Emicida com a música e as personalidades presentes em seu trabalho, as músicas reunem de artistas consagrados, como Zeca Pagodinho e Fernanda Montenegro, à nova geração da música brasileira com nomes como Pabllo Vittar e Majur.
A junção muito bem trabalhada de imagens do processo criativo, da gravação do álbum e das cenas do show ao vivo trazem leveza à narrativa. Merece destaque também a relação do samba e do modernismo com a formação da cultura brasileira, um dos pontos centrais da narrativa do documentário.
Apesar do show ter sido em novembro de 2019, o documentário não poderia ser mais atual. Ao evidenciar a situação das pessoas mais pobres e negras e a condição de vulnerabilidade que elas vivem, o filme consegue fortalecer um símbolo sobre quem realmente sofre nesse país.
Em um ano que a luta negra por direitos e igualdade teve muito destaque em um nível mundial, o documentário AmarElo: É Tudo pra Ontem é uma produção muito importante. A obra é essencial para disseminar ainda mais a luta e a esperança. Emicida, se colocando como uma figura capaz de compreender e reforçar a história e a importância da negritude, incentiva a luta dos negros em ocupar os espaços que lhes foram negados e a união deles para continuar na luta. É um documentário representativo e essencial para não só para aqueles que se identificam e querem aprender ainda mais sobre a própria história, é indispensável para todos.
Assista ao trailer do documentário disponível na Netflix: