Este não é um prodígio
Madson Souza, dos vícios e hobbies ao trabalho jornalístico em uma despretensiosa jornada
Elaine Sanoli
Não é esta a primeira vez em que se busca desvendar as nuances de sua personalidade. Certa vez, ao ser entrevistado por uma colega do curso de jornalismo, Madson Souza foi assim pintado com um verdadeiro prodígio. Um presunçoso escritor nato em sua essência. A característica lhe foi atribuída por uma simples história. Quando criança, com apenas 5 ou 6 anos de idade, Madson começou a desenvolver a relação, que até os dias de hoje aos 23 anos perdura, com a escrita. Inventava letras de músicas e as gravava com o celular de sua mãe. Mas não se engane, essa não é a história de um gênio da escrita.
Uma pessoa é reflexo das experiências que vive, uma história é feita de pequenos passos. E se os primeiros passos do jovem Madson na escrita foram dados ainda na infância, os foram sob supervisão de sua “babá”: a cultura pop. Desde muito cedo acostumado à espera do retorno dos pais do trabalho, Madson encontrava nos games e filmes distração para os seus dias. Não sabia ele que seria muito mais do que isso. É para ela que ele tem dedicado parte de seus dias atualmente: a desvendar os mistérios da cultura pop. “Área 101”, o programa da rádio Metrópole que é um dos apresentadores, abrange o universo nerd em suas múltiplas faces. O mundo é um lugar demasiado complexo, sob a lente da cultura pop interpretá-lo torna-se mais fácil, acredita ele. As narrativas são ricas de morais e metáforas que Madson leva para vida das formas mais criativas possíveis. Cultura e criatividade andam sempre lado a lado em sua trajetória. E quase nunca esquecem de arrastar o bom humor com elas. Exceto nos 15 minutos de choro precedentes à iniciação de qualquer atividade que Madson se disponha a fazer.
Filho de militar, sua localização sempre girou em torno do trânsito Salvador – Rio de Janeiro, sua terra natal. Quase tão longe quanto a capital fluminense, a vila militar no fim do bairro de Paripe é de onde Madson partia todos os dias durante o seu primeiro entre os “384 semestres” que ele já cursou na universidade. Nesse período, que já “faz 84 anos” dentro do curso de jornalismo, Madson aprendeu a gostar cada vez mais das possibilidades da sua profissão. Sobretudo, a possibilidade de relacionar seus hobbies com o trabalho. A identificação veio com a disciplina “Estética da comunicação”. Trabalhar com a construção de críticas à videoclipes lhe abriu margens para a perspectiva do jornalismo cultural, de onde não pretende sair, a menos que a banda Nx Zero retorne às atividades o convidando para compor suas músicas.
Contrariando o sol em áries do dia 19 de abril de 1999, Madson, como qualquer pessoa comum, não se convence facilmente por horóscopos. Coragem, bravura e personalidade forte são características incompatíveis com o que ele vê no espelho. Ou mesmo, incompatível com o que diz seu hábito de desistência. Essa é uma das razões, inclusive, pelas quais Madson está há tanto tempo na universidade, desde o primeiro semestre de 2017. Desistir, sobretudo por pura falta de vontade de continuar, não é uma tarefa difícil.
Tarefa difícil é na verdade lidar todos os dias com o ambiente universitário. As maiores dificuldades que Madson enfrentou na conflituosa relação com a UFBA e o jornalismo se deram nos semestres iniciais. Assim como uma boa parcela dos estudantes da universidade, ex-aluno de escola pública, levava cerca de 3h para chegar até a universidade. Por vezes, dormia em aulas para lidar com o cansaço. Ainda assim, as dificuldades não acabaram. Na universidade federal elas nunca acabam. Todo início de semestre é uma incerteza: “será que vou mesmo voltar?”. Cada semestre é uma nova história, uma nova narrativa com aventuras e experiências diferentes. Para trazer um pouco de leveza para essas jornadas, o jornalista faz associações a referências da cultura pop. O escolhido para esse primeiro semestre de 2022 é o quarto filme da franquia Matrix, “Matrix: Ressurections”. A abordagem do estranhamento do retorno à Matrix é trazida analogamente ao retorno presencial das atividades da universidade após dois longos anos de pandemia.
No alto dos seus 23 anos, Madson não está como achava que estaria aos 15: em uma vida independente, estável e descolada, como nos filmes que costuma assistir. Mas a realidade traz outras histórias. Está longe de ter uma vida glamourosa e fascinante de um escritor prodígio. Entre as desistências e “nerdices” ele tem traçado o seu caminho no jornalismo (e na vida) com uma única pretensão: ser “o mais Madson possível”.