Os idosos na pandemia do isolamento: Internet agora faz parte do cotidiano

Kauane Brito, Liz Fontes e Lizy Maria.

Estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz, em 2021, revelou que três em cada quatro óbitos por Covid-19 vitimaram pessoas com mais de 60 anos de idade. Além de colocar em risco a saúde física deste grupo, a pandemia ameaçou também o bem estar social e psicológico desses indivíduos, já que duas das medidas sanitárias mais recomendadas pelas autoridades médicas foram o distanciamento e o isolamento social. Essa nova realidade levou os idosos a recorrerem a outras formas de manter contato com a família e amigos, aproveitando, muitas vezes, das tecnologias de comunicação disponíveis. 

Seguindo recomendações do Ministério da Saúde, os familiares se viram obrigados a deixar de fazer parte do dia a dia dos mais velhos numa tentativa de evitar a contaminação. Elisa Maria Santos, de 65 anos, que tem uma mãe de 93 anos e residente de asilo, conta que passou por isso com dificuldade: “Foi terrível, sem poder ver minha mãe. A gente falava com ela da rua, pela janela. Meu medo era que ela ficasse com depressão por pensar que a gente abandonou ela”. 

A distância foi um desafio a ser superado, já que muitos idosos que tinham visitas incluídas em suas rotinas, se viram sozinhos. Além de lidar com o medo da  doença, lidavam com a saudade, um sentimento unânime em todos os idosos entrevistados. Maria Valéria Carvalho, de 60 anos, teve muita dificuldade para acompanhar sua mãe hospitalizada, que acabou falecendo por conta de um sangramento interno, em 2020. ‘’Na noite anterior ao falecimento, eu não consegui dormir lá porque a enfermagem não liberou devido à pandemia. De manhã, minha mãe morreu e isso deixou a mim e à minha irmã uma certa culpa de não estar com minha mãe naquele momento.’’ 

Entre a saudade da rotina e a segurança do isolamento/ Foto: Personale Cuidador

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  (IBGE), em 2019, a parcela da população mais afetada pela depressão foi a de  idosos entre 60 a 64 anos.  A psicóloga Thelma Doria ressalta que um dos melhores remédios para depressão é encontrar amigos e família, contudo por conta do risco de contágio, as pessoas precisaram manter-se afastadas umas das outras, acentuando a solidão e por consequência a depressão.

Eliza Maria Santos, 65 anos, contou que desenvolveu depressão durante a pandemia, após seu filho, 27 anos, sair de casa,  em 2021. Nesse período, que estava sozinha, além de se atentar aos cuidados contra o vírus, teve que lidar com a ausência do filho. 

A falta de convívio social contribui drasticamente para o aumento da ansiedade e da depressão, conforme afirma Ana Júlia Souto, psicopedagoga e terapeuta ocupacional especializada em idosos. A profissional ressalta a importância da socialização: ‘’Fundamental! O contato social, a socialização na vida do idoso é de uma relevância imensa. Nem todos se habituam, após a aposentadoria passarem a viver só.  Se ele fica só em casa, não sai, ele não tem ânimo.’’  

Um caminho viável 

Para amenizar a solidão e a tensão vivida na pandemia, algo antes temido pelos idosos assumiu em suas vidas um papel mais importante: a tecnologia. O meio online se tornou uma alternativa segura para estar mais perto de amigos e familiares. 

De acordo com o geriatra Leonardo Rabelo, para aqueles que têm acesso, esses novos hábitos têm impacto positivo para a terceira idade, melhoram a comunicação e proporcionam maior inclusão. A telemedicina também foi um avanço destacado como facilitador pelo médico. 

Além disso, outras funcionalidades podem ser destacadas, como a realização de compras e serviços online, que evitaram a exposição desnecessária. Maria Laura Fontes, de 74 anos, afirma que adotou essa prática durante a pandemia.  “Temos o hábito de comprar online, inclusive meu marido só compra a maioria das coisas via internet’’.

Os aparelhos eletrônicos como um encurtador de distância/ Foto: TudoCelular

Apesar de inovadora, os mais velhos não veem a tecnologia da mesma forma que os nativos digitais, e o uso de aparelhos pode trazer consigo alguns desafios para os idosos. Mas, com a prática, esse grupo pôde se inserir no meio digital e usufruir de seus benefícios.

“Foi complicado. A gente vai aprendendo”, relata Elisa Maria. “No início foi difícil,  mas aí eu fui treinando, errava, acertava. No fim deu certo. Então pra mim a tecnologia foi muito boa!”.

Ela utilizou as tecnologias de comunicação para seguir com seu grupo de orações, antes presencial, e realizar exercícios físicos, atividades que, segundo ela, auxiliaram no combate à depressão.

Em junho de 2022, 83% da população brasileira já se encontrava imunizada com pelo menos duas doses da vacina contra o coronavírus, conforme dados do consórcio de imprensa. Entretanto, mesmo com o alto índice de imunizados, diferentes variantes continuaram a aparecer. “A ômicron está em circulação e é uma variante altamente transmissível, inclusive com sub variantes. A doença está diminuindo, entretanto, novas ondas ainda podem acontecer” afirma o médico infectologista Julival Ribeiro. 

Com a diminuição das restrições e o aumento da liberdade, o sentimento predominante agora é o de esperança. Após dois anos de pandemia, a população  está mais preparada e protegida. Os idosos, antes acuados e solitários, agora têm o  auxílio da tecnologia, um recurso que, mesmo com seus defeitos, possibilitou uma melhora na qualidade de vida da terceira idade. O olho no olho passou a ser digital, mas, ainda assim, está aproximando as pessoas do mundo inteiro.

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