Daniel Silva: “A grande mídia sempre vai mostrar as comunidades como criminosas”

Lucas Bispo

O Portal CajaOn noticia diariamente o bairro de Cajazeiras e região buscando invalidar esta lógica. “A violência nas favelas sempre foi o tema de maior importância na cobertura da grande mídia”. Por meio da página Noticias Cajazeiras, o veículo expõe as comunidades de maneira diferente do exibido pelos principais veículos noticiosos. “O jornalismo comunitário é caminho encontrado para não seguir a lógica estabelecida pelos grandes veículos”. A partir de iniciativa comunitária, o portal foi criaďo por Daniel em parceria com três colegas jornalistas de Cajazeiras em fevereiro de 2021, durante a pandemia. Hoje o grupo possui uma página no Instagram, um canal no Youtube, ao todo soma cerca de 10 mil seguidores nas redes. Daniel defende a importância do papel do jornalismo comunitário para a sociedade: “O jornalismo comunitário surge com objetivo de ir na contra mão dos grandes veículos, isso porque as notícias veiculadas nos portais tornam-se possibilidade para as pessoas encontrarem espaços”.


Em que momento vocês sentem a necessidade de criar o portal?
Para falamos disso, precisamos voltar um pouco lá trás e entender como os movimentos sociais foram peças fundamentais para o surgimento do jornalismo comunitário. Eles sempre buscavam melhorias para as comunidades que estavam inseridos. Foi com essa necessidade que surge o Portal CajaOn: fazer um jornalismo comunitário para que tenhamos uma comunidade mais justa, pacífica.

Como foi a transição do querer ao fazer?
Os criadores do portal são jornalistas, muitos já vinham de jornalismo comunitário. Criar o portal foi uma forma de colocar em prática os aprendizados de sala de aula.

Quais as maiores dificuldades que você teve no meio?
Olha, os desafios são grandes, primeiro porque a gente entende que o jornalismo comunitário em parte está ali para suprir as necessidades de sobrevivência e estabelecer uma justiça social. O que caracteriza o jornalista comunitário é não ter fins lucrativos, logo isso se torna um desafio pois manter um veículo nos moldes do CajanOn é bem delicado.

Em contrapartida, quais os maiores feitos do CajaOn?
Desde a nossa fundação já realizamos alguns feitos: a cobertura do BBC, de grandes festivais de Salvador, sempre com enquadramento e direcionamento para Cajazeiras. Mas o maior feito que fizemos até hoje é sermos referência para nossa comunidade.

Com um bairro tão grande como Cajazeiras, como definir o que é informação, alcançar a todos?
A nossa equipe é formada por 4 jornalistas: Daniel Silva, Mateus Massena, Maria Viana e Vivaldo Marques. Em todas as nossas reportagens levamos em consideração todos critérios de noticiabilidade, pautas que sejam de interesse da comunidade local, sempre com linguagem acessível.

Como é feita a apuração, a pesquisa sobre o material exposto no portal?
Toda a nossa apuração acontece de algumas formas: ir até o local, buscar através de documentos, entrevistas com fontes e a depender do fato checagem com polícia, secretarias.

Qual você considera que seja a principal importância da comunicação comunitária?
O jornalismo comunitário tem um papel muito importante para sociedade pois oferece oportunidade para uma sociedade mais justa, pacífica. A violência nas favelas sempre foi o tema de maior importância na cobertura da grande mídia. O jornalismo comunitário surge com objetivo de ir na contra mão dos grandes veículos, isso porque as notícias veiculadas nos portais tornam-se possibilidade para as pessoas encontrarem espaços, discutirem tópicos de interesse que não são abordados pelos principais veículos de comunicação, quando são, não possuem um enquadramento diferente.

“O jornalismo comunitário é um espaço de luta para as comunidades”


Os veículos independentes em Salvador tem o reconhecimento jornalístico hoje?
Olha, uma pergunta difícil, acredito que não, mais existem algumas emissoras de TV, que tem buscado os portais para serem fontes oficiais do bairro.

As comunidades periféricas são pontos desconsiderados pela mídia tradicional?
As comunidades sempre são vistas como lugar de crimes. Só entram nas comunidades para mostrar o lado negativo. O jornalismo comunitário é caminho encontrado para não seguir essa mesma lógica estabelecida pelos grandes veículos. A grande mídia sempre vai mostrar as comunidades como criminosas, perigosas, como quase sempre acontece nos grandes veículos de comunicação.

Como enxerga o jornalismo realizado pelas grandes mídias em Salvador?
Primeiro a gente precisa entender que no Brasil cerca de 5 famílias controlam 50% dos principais veículos de mídia do país, isso quem diz é uma pesquisa feita pela Ong Repórteres sem Fronteiras. Em salvador não é diferente, os donos das mídias são os gatekeepers.

Qual o planejamento pro futuro do veículo?
Estamos esquecendo o passado, vivendo o presente e aguardando o futuro. Coisas grandes estão por vim, em breve traremos novidades.

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