Empreendedorismo digital cresce com a pandemia e consolida negócios

Felipe Silva e Sofia Oliveira
(Hamburgueria mantem serviço presencial e digital (Foto: Arquivo pessoal))

Como continuar a vender o seu produto com as medidas restritivas adotadas durante a pandemia? A resposta desta pergunta, frequente para os empreendedores baianos,  é impulsionar o negócio através do mundo digital. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) as vendas online cresceram 30% na Bahia, desde o início da pandemia em 2020. 

Este é o caso de Ana Clara Auto, dona de uma hamburgueria no bairro da Pituba, que reabriu em agosto deste ano. Ela precisou recorrer à internet para evitar o prejuízo. Entre os serviços digitais utilizados, Ana afirma ter um um ótimo resultado com o Ifood e o delivery pelo whatsapp. De acordo com Ana, 40% das vendas acontecem através dos aplicativos. 

“As vendas de fato caíram. Quando o cliente sai de casa para consumir, ele está disposto a isso. Mas, quando você está em casa e pede um delivery, você termina não pedindo uma bebida, um refrigerante. O consumo de cerveja caiu muito. Os pedidos eram menores, mas a demanda por Ifood aumentou e a gente investiu muito em tráfego pago na internet. Hoje a nossa comunicação é pelas redes sociais. A gente precisou investir um pouco mais nos anúncios pela internet para conseguir a captação de novos clientes e continuamos apostando em plataformas que já existem, como o Ifood e o delivery próprio da casa pelo whatsapp”, conta Ana, que tem investido, mensalmente, R$ 1mil em anúncios nas redes sociais. 

Com o intuito de diminuir os gastos e continuar com um retorno financeiro satisfatório, a empresária Ana decidiu focar suas vendas através do delivery. O maior investimento agora é nas propagandas online. “A venda online é muito importante para o meu negócio. A gente saiu de uma cozinha de quase 20m2 para uma cozinha de nove. A gente pretende continuar onde a gente está, fazendo essa propaganda via redes sociais que é a forma que mais atrai clientes e tentando ainda enxugar custos, porque por outro lado, os preços dos insumos aumentaram muito também.”, frisa Ana. 

Segundo levantamento da Paypal, não são apenas os comerciantes que se beneficiam das vendas online, para os clientes, o serviço de delivery se mostra cada vez mais crescente. A pesquisa revela que a maioria dos brasileiros e das brasileiras compra online sempre que pode (84,5%), além de considerar essa forma de pagamento fácil (98,3%) e gostar da experiência (98,8%).

(A loja Breno da Empada possui perfil no Instagram e conta no Whatsapp (Foto: Reprodução))

O empreendedor Breno Sodré, conhecido como Breno da Empada, que antes da pandemia já trabalhava com a opção delivery, afirma que as medidas de reabertura permitiram, por exemplo, a retirada no local. Porém, a sua loja ainda está fechada. São as vendas online que garantem a continuidade do seu trabalho. No delivery, o consumidor fica muito tempo esperando. A retirada pode ser interessante, porque reduz o custo de motoboys, gasolina e terceirização de serviços.

Mas, assim como em qualquer negócio, os desafios da venda online bateram à porta virtual da loja de Breno quando ele decidiu desenvolver um aplicativo próprio de delivery durante a pandemia. “Eu não vi benefício algum, a faixa de preço de entrega e o tempo precisam ser na mesma logística dos aplicativos, mas o produto precisa ter um valor no mercado que sustente isso. Senão, não funciona. As pessoas não sabem como funciona a logística de um delivery próprio e comparam com a logística de aplicativos e por ela nivelam se é bom ou ruim. O que às vezes acaba sendo ruim”, relata, Breno.

O comportamento dos consumidores acima de 60 anos também mudou. É o que mostra uma pesquisa do Datafolha, onde 80% dos entrevistados passaram a utilizar o delivery na pandemia e 62% pretendem continuar com os pedidos de comida por aplicativo, mesmo com a reabertura dos restaurantes e após o fim da pandemia. 

Ideias e incertezas  

O item que o cliente procura pode ser encontrado em uma loja virtual, entretanto, outro desafio das empresas que investem nas vendas online em tempos de incerteza, é lidar com os atrasos nas entregas e saber contornar a situação para não perder clientes que podem se sentir insatisfeitos por não receber o produto no prazo estabelecido.

Para setores como mercados e farmácias um outro desafio é ampliar o hábito de consumo por meio dos aplicativos de entrega. A enfermeira Flor Passos, de 46 anos, confessa que só começou a fazer compras com frequência nas farmácias por aplicativo após o início da quarentena, por medo de se contaminar com o vírus e transmitir para a família: “Antes, eu só comprava lanches por aplicativo. Quando era para comprar remédios, eu preferia ir à farmácia para economizar a taxa de entrega. Mas nos períodos intensos da pandemia, eu evitei sair de casa ao máximo e não trabalhei por ser grupo de risco. Por isso, só peço por delivery quando estou muito ocupada ou em caso de urgência.”. 

Para continuar oferecendo excelentes serviços através dos deliverys, os empreendedores baianos precisam também aumentar a qualidade de atendimento para ampliar o número de consumidores satisfeitos. O valor de entrega, por vezes, é um dos fatores evidentes para que muitos evitem comprar online. Sendo assim, para as empresas que desejam estender seu serviço para o comércio digital, é necessário capacitação, planejamento e organização para que as mantenham as vendas on-line com um canal satisfatório e qualidade de entrega. 

Não é possível afirmar que a modalidade será o formato mais utilizado após a pandemia, pois toda essa conjuntura é pautada no comportamento da sociedade, devido a quarentena. Logo, essa questão só possui respostas no futuro.

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