O divertido peregrino
por Marcele Magalhães
Um bobo risonho. Talvez essa seja a melhor forma de descrever Gabriel Moura, 25, estudante de Jornalismo na Facom UFBA. O jovem esbanja bom humor por onde passa. Diz que não consegue ficar bravo por absolutamente nada. “Ser sério é muito chato. Eu tento não me levar a sério. É tudo muito chato. Eu sou chato. O mundo é chato. Por que a gente vai ficar levando a sério? Não. Vamos todo mundo dar risada”, brinca.
Em um bar da noite soteropolitana, Moura é interrompido algumas vezes para fazer brincadeiras com amigos. Um deles chega até a participar da entrevista, revelando que seu parceiro é um ótimo companheiro e ex-estagiário. É nesse clima descontraído que, em plena madrugada de uma sexta-feira, Gabriel fala sobre sua relação com os colegas: “O que eu mais gosto de fazer é estar aqui. Comer água com a galera, resenhar. Eu poderia estar triste em casa, quase em depressão. Mas estou aqui com as pessoas que eu amo, com os amigos, ouvindo músicas ruins e isso é massa”. Mesmo deixando a impressão de ser extremamente desinibido, ele afirma ser bastante tímido quando não está na presença de conhecidos.
Amante das noites e das pessoas que as compartilham com ele, Gabriel lembra com aflição do período de distanciamento social quando os encontros eram proibidos. “Foi muito triste. Eu não queria ficar em casa. Cheguei a mandar mensagem para os meus amigos falando para a gente sair na clandestinidade, mas depois falava que era tudo brincadeira”, conclui rindo. Ele conta que assim que viu a primeira pessoa saindo de casa decidiu ir também, “Sou o terror da OMS, sim!”, completa rindo. Mesmo não gostando da medida, Gabriel diz que era algo necessário naquele momento e que na verdade até o ajudou em alguns aspectos, como em guardar dinheiro. “Estou bonito nesse momento graças ao lockdown” diz ao se referir aos tênis que estava usando, comprados com o dinheiro que juntou no período. Além de servir para suas finanças, ele também usou o tempo de confinamento para experimentar coisas novas, como por exemplo, realizar o sonho de deixar o cabelo crescer: “Queria ver se eu ficava bonito de cabelão. Aí eu percebi que ficava muito feio e cortei. Mas tirei essa dúvida”, brinca.
Apesar de todas as saídas e noitadas, que diz ser seu forte, Moura descreve sua rotina como pacata. Talvez sua maior emoção durante a semana seja acordar às 8:50 para começar a trabalhar dez minutos depois, às 9 horas, “Não sou uma pessoa que muda o mundo”, diz ao tentar expressar o quão normal seu cotidiano é. E, antes de mudar de assunto, assume um novo tom, mais caloroso, para falar sobre sua paixão por The Strokes, uma banda nova-iorquina de rock. Cita que ouvir essa banda é, definitivamente, a coisa que mais faz em seu dia e ainda brinca dizendo que poderia namorar Julian Casablancas, um dos integrantes dela.
Além de The Strokes, Moura diz ser apaixonado também por Harry Potter e pelo Santos Futebol Clube. “Grande parte da minha personalidade é formada por eles”, diz ao se referir ao trio. Prova disso são as tatuagens que fez em homenagem aos seus xodós.
Athena, a deusa do último dos românticos
Gabriel entrou na Facom após uma transferência interna, no segundo semestre de 2016. Ele fazia Economia e resolveu mudar de curso. Acabou por escolher Jornalismo após não se identificar com as outras opções que tinha disponíveis. Por fim, gostou da faculdade e seguiu nela. Para ele, a profissão lhe proporciona viver coisas que dificilmente alguma outra conseguiria. Atualmente cursa o 12º período. Brinca que ainda não se formou por ter preguiça de entregar um trabalho tão grande, o TCC. Mas a verdade é que a rotina fica cada vez mais corrida e, por isso, mais difícil de concluir o curso.
Por conta do trabalho e das poucas matérias que tem, o jovem diz já ver a universidade com ar de nostalgia, “A Facom é algo importante para mim, mas que praticamente já passou”, declara. Enquanto não se despede de forma definitiva, relembra algumas memórias que guarda do local, como a fundação da Atlética Athena. “Minha amiga, Marina, chegou falando: ‘Eu quero fundar uma atlética’ e eu falei ‘Estou com você’. Ela precisava de oito assinaturas e a minha foi uma delas. Sim, eu tenho esse marco de ser um dos fundadores da atlética”.
Hoje, muito mais ligado ao seu trabalho como repórter digital do Correio, continua participando das atividades da Facom, principalmente da Atlética. Ressalta que apesar de não estar tão presente como nos primeiros semestres do curso, segue envolvido com o que acontece na universidade.
Ao pensar sobre o futuro, Moura não tem muitos planos. Ele apenas deseja se casar, ter dois filhos, uma casa e um carro. Nada muito grande ou específico. Uma frase frequentemente dita por ele é: “Sou um romântico sem cura”. Talvez realmente seja verdade, uma vez que ele considera como sua melhor lembrança algo que ainda não viveu: seu casamento, por ser o maior sonho da sua vida.
O Backyardigans da vida real
Além de jornalista com hábitos noturnos, Moura também é um viajante. Ele conta que o melhor de viajar são as vivências que se tornam possíveis, “Gosto de me abrir a novas experiências. Nas viagens vivo coisas que nunca viveria se não fosse naquele lugar”. De todos os lugares que conheceu, Gabriel cita Praga como o mais diferente. Além de lindo, a cerveja era mais barata até que a água. “Eu estava muito bêbado, nem lembro muito de nada”, diz rindo ao se lembrar da viagem.
Mesmo conhecendo muitos lugares do globo, o soteropolitano deseja continuar descobrindo novos países e culturas. Mas um lugar, dentre todos os outros, consegue despertar seu interesse de forma especial: Pyongyang, a capital da Coreia do Norte. “Lá vou ter uma vivência que não se encontra em nenhum outro país do mundo. Não tem internet. É uma ditadura. Não pode nem olhar para o lado. É diferente” argumenta o jornalista quando percebe o quão inusitado é seu desejo.
Após viajar o mundo, visitar países como Portugal, Alemanha, França, Itália e tantos outros, quando perguntado sobre seu lugar preferido no globo ele diz ser seu quarto. “Paris é incrível. Roma é lindo, mas meu quarto é melhor”, conclui rindo. Ele ama estar sozinho em seu lugar favorito apenas ouvindo The Strokes no último volume.
Falando sério
Mesmo não sendo um cara dos embates, não se priva de dar opiniões fortes quando perguntado. Ele começa com posições mais leves, como dizer que “Pessoas bêbadas são as melhores que existem”, até outras que geram maiores discussões.
“Comparar Lula com Bolsonaro é injusto por si só”, fala quando questionado sobre a extrema polarização política do Brasil em 2022. Para o jornalista, Bolsonaro nem deveria figurar no debate político perante sua atuação pífia no comando do país nesse último quadriênio. Quanto a Lula, ele faz algumas ressalvas, “Quero que o Lula viva bem, mas fora do poder”, conclui ao diferenciar sua posição sobre os dois maiores atores políticos do momento. Diz ainda que, por mais que o retorno do governo Lula não seja o seu desejo, já que consegue enxergar um outro caminho para o Brasil, não se importaria de ir trajado de vermelho com um grande 13 no peito se essa fosse a única chance de derrubar o atual presidente. “O Bolsonaro não é Dom Pedro I”, brada quando lembra das tentativas de intervenção do governante em outras instituições.