Marcelo Garcia: “A grande mídia, na maioria das vezes, se interessa apenas pela violência e pelo sensacionalismo” 

Kamila Macedo

O pensamento de Marcelo Garcia, fundador e diretor-chefe do portal Boca do Rio Magazine, era transmitir a realidade do ambiente em que morava, também com o objetivo de informar aos habitantes da região. “Hoje a gente consegue ver que um projeto desse tipo é essencial em todos os bairros, pois dá voz aos moradores diariamente”. Com seis anos de história, o veículo acumula mais de 32 mil seguidores em suas redes sociais. De acordo com Marcelo, ter essa participação do público é essencial para que o jornalismo comunitário cresça e continue funcionando. “Eles têm acesso à nossa equipe e, sempre que necessário, estamos à disposição para ajudar. Essa relação próxima é o que eles mais gostam, porque sabem que nós estamos sempre aqui.” 

O que te motivou a criar um jornal com foco no bairro Boca do Rio? 

Sou morador do bairro há mais de 20 anos, resolvi parar de reclamar e começar a fazer algo pela melhoria do bairro que eu vivo, pensando muito em fazer alguma coisa para que meu filho, por exemplo, tenha um lugar melhor pra morar. Já tinha visto proposta semelhante em outros bairros. Durante um bate-papo com amigos, um deles sugeriu que eu fizesse uma página para mostrar o lado da Boca do Rio que ninguém conhecia. A grande mídia, na maioria das vezes, se interessa apenas pela violência e pelo sensacionalismo, não dando espaço para outros temas como a história do bairro, os projetos sociais, a cultura local, entre outros. 

De qual forma você acredita que esse tipo de comunicação/informação ajuda os moradores do bairro?  

Passados seis anos de Boca do Rio Magazine, hoje a gente consegue ver que um projeto desse tipo é essencial em todos os bairros, pois dá voz aos moradores diariamente. Já conseguimos revolver diversos problemas que a comunidade cobrava há muito tempo, graças ao trabalho sério e comprometido que desenvolvemos. Isso nos dá muita credibilidade diante dos moradores, a cada dia novas demandas vão surgindo e a gente vai tentando solucionar. 

Há seis anos, quando houve a criação do jornal, você imaginava o alcance que tem atualmente? 

Não imaginava que teríamos os números atuais, mas sempre acreditei que não seria um projeto pequeno. Por isso, desde o início, administrávamos de forma profissional, com o comprometimento necessário para que um dia esse alcance se tornasse o atual.

Vocês estão em diversas redes disponíveis, como Instagram, Facebook e site oficial do jornal. Existe um método diferente para trabalhar com cada uma delas? 

Existe a intenção de fazer uma gestão diferenciada, porém não dispomos de pessoal suficiente para cuidar de cada rede como deveríamos. Diante disso, acabamos focando muito no Instagram, pois é de lá que vem a maioria do público que consome nosso conteúdo. Mas temos consciência de que, se cuidássemos das demais da mesma forma, o alcance seria bem maior. 

O que você acredita que tenha sido um diferencial para o Boca do Rio Magazine se tornar um dos principais portadores de notícias do bairro? 

Na realidade, o fator decisivo nessa questão foi porque nós fomos os primeiros. Outros portais surgiram depois, mas as pessoas que os fundaram não conseguiram cuidar e, com isso, eles acabaram deixando de existir.

“Há uma ilusão muito grande quando se fala de jornalismo comunitário, porque muita gente acha que o trabalho se resume em “ganhar presentes de lojistas para fazer divulgação”. É completamente o oposto. Muito do que fizemos foi sem ganhar nada em troca, apenas visando tornar o bairro um local melhor de se viver.”

Atualmente, tem uma equipe trabalhando contigo no portal. Entretanto, no começo, era só você administrando tudo? 

No início, eu cuidava sozinho. Com o passar do tempo, um amigo começou a ajudar um pouco dando opiniões e dicas sobre assuntos interessantes. Depois minha esposa começou a cuidar do Instagram. Em 2020, houve o grande crescimento após o início da pandemia. De lá pra cá, tivemos o ingresso de uma assistente social, que nos ajuda nas questões de saúde, e uma equipe de jornalismo com repórter e câmera, que ficou pouco tempo. Depois deles, tivemos conosco uma estudante de jornalismo da UFBA que se formou enquanto estava com a gente, deixando vago a função de jornalista. Entretanto já estamos em busca de alguém para ocupar essa vaga. 

Como diretor-chefe, você acha difícil conciliar as obrigações dentro do jornal? 

É difícil, porque eu não trabalho só com o Boca do Rio Magazine. Acaba que eu preciso me “desdobrar” para dar conta das necessidades do projeto. Já sabia que isso não seria fácil, então seguimos em frente na certeza de estar no caminho certo.

É possível observar que a população do bairro Boca do Rio tem uma participação no envio de fotos/notícias. Você acredita que isso aproxima o público do veículo de comunicação? 

Sem dúvidas. Assim como os grandes veículos de comunicação, a gente também é alimentado pelos nossos seguidores e eles são os grandes responsáveis pela notícia chegar até nós com a rapidez que a gente precisa. Eles têm acesso direto a nossa equipe e, sempre que necessário, estamos à disposição para ajudar. Essa relação próxima é o que eles mais gostam, porque sabem que nós estamos sempre aqui. 

Tem algo que você gostaria de acrescentar? 

Eu diria que quem é estudante de jornalismo precisa se envolver no Jornalismo comunitário do bairro que mora, pois esse projeto necessita da sua ajuda. É uma forma de conseguir experiência e ajudar a comunidade que você vive. Contudo, se no seu bairro não tem um projeto desse, você pode ser a pessoa responsável pela fundação do mesmo. Saiba que não será uma tarefa fácil, mas será muito gratificante. Se você gosta mesmo de jornalismo, você precisa viver o jornalismo comunitário.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.