Emilly Giffone: “As periferias possuem dores que não são mostradas pelos grandes veículos. Através dos portais comunitário são expostas”

Equipe São Cristóvão CityNews. Foto: Acervo pessoal

Larissa Lima

Com mais de 19 mil seguidores no Instagram para uma população estimada de 92mil pessoas, o SãoCristóvãoCitynews se preocupa em dar a atenção necessária para os acontecimentos que às vezes não são o foco das grandes mídias. “Os moradores movem o nosso portal. Eles que fazem os nossos conteúdos. Eles que divulgam o nosso perfil. Eles são o pilar de tudo isso”, defende Emilly Giffone, jornalista que representa o veículo comunitário nessa entrevista via WhatsApp. A equipe de cinco voluntários residentes de São Cristóvão, vizinho de Lauro de Freitas e de Itapuã, administra o site e o YouTube com postagens de notícias, de utilidade pública como vagas de empregos e eventos culturais, além de apoiar a economia da região. Emilly explica que priorizam sempre acontecimentos que sejam da região ou que tenham maior proximidade.

Como surgiu o São Cristóvão Citynews?

Surgiu apenas no Instagram em 2020 após o desejo do criador, que prefere não ser identificado, de compartilhar as dificuldades que tinham no bairro para cobrar soluções das autoridades. Deixar a comunidade antenada sobre tudo de bom e ruim que acontecia no bairro. A página tinha muitas falhas profissionais, porque não tinha jornalista nela, era apenas um cara que queria ajudar a comunidade sem conhecimento nenhum na área, o que trazia renda eram as parcerias, os comerciantes locais que davam uma contribuição para a equipe ir no comércio gravar conteúdos e divulgar.

Como está escalada a equipe hoje em dia?

Hoje temos um designer gráfico sem formação, que também faz a parte de audiovisual: o Ricardo Rodrigues, conhecido como Riick Kanario. Gustavo Araújo, repórter sem formação e editor de conteúdo. Gabriela Oliveira no Marketing. Ela faz as nossas parcerias e quando necessário também vira repórter. O administrador principal, quem indiretamente comanda a página, e eu como jornalista.

São todos voluntários?

Em suma sim. Hoje nós recebemos uma renda da Prefeitura, por ter publicidade em nosso site, porém não dá para pagar salário a todo mundo. Recebemos uma ajuda de custo que passamos a ter esse ano.

Como acontece as apurações para as notícias exclusivas do bairro?

Às vezes os moradores nos enviam denúncias. Às vezes os líderes comunitários enviam, outras vezes são percepções da gente mesmo. Como todos da equipe são moradores do bairro, estamos diretamente ligados com as dores da comunidade.

“Queríamos levar informações sobre o nosso bairro muito mais longe, além de ter mais acessos.”

Qual é a importância para vocês de ter um canal de informação da região e para a região?

As periferias possuem dores que normalmente não são mostradas pelos grandes veículos. Através dos portais comunitários essas dores são expostas e conseguimos cobrar soluções das autoridades.

Por que decidiram migrar para o site e outras redes?

Porque percebemos que poderíamos ser muito maiores estando em todas as plataformas, queríamos levar informações sobre o nosso bairro muito mais longe, além de ter mais acessos.

Tiveram alguma inspiração para começar?

Não exatamente uma inspiração, mas quando surgiu o desejo de fazer buscamos outros portais. Um do Bairro da Paz, outro no Nordeste de Amaralina, para saber como dava para fazer.

Vocês seguem algum cronograma de postagens?

Algumas vezes conseguimos fazer programação semanal, preparamos além das notícias alguns conteúdos aleatórios: gravações com moradores nas ruas, lives. Tem vezes que não conseguimos fazer isso, publicamos o que surgir: denúncias de moradores, memes, notícias gerais de outros bairros e até de outros estados.

Chegaram ao ponto de pensar em desistir?

Várias vezes. Como não temos renda, é difícil manter a dedicação somente no portal, precisamos sobreviver. Fica cansativo, publicamos pouco, só que por saber a importância que tem o portal voltamos a manter a constância.

Como funciona a parte financeira da existência do portal atualmente?
Recebemos uma renda através de publicidades da prefeitura em nosso site. Conseguimos outra renda mínima através de parcerias com comerciantes locais, que pagam uma taxa para ter a nossa divulgação.

“Nosso alcance é de mais de 90 mil usuários por mês, então é gratificante ver o quanto trabalhamos para chegar até aqui.”

Como é o trabalho de escolha entre os assuntos para as publicações?

Vai de acordo com a relevância do assunto, priorizando sempre acontecimentos que sejam da nossa região ou que tenham maior proximidade. Porém sempre acontece de ter conteúdos de outros bairros.

Esperavam chegar a essa quantidade de seguidores e esse acolhimento das pessoas?
Não esperávamos mas as coisas foram fluindo, fomos evoluindo em nossos conteúdos e deu super certo. Hoje temos mais de 19 mil seguidores de forma orgânica. Nosso alcance é de mais de 90 mil usuários por mês. É gratificante ver o quanto trabalhamos para chegar até aqui. 

O ‘indicaê’ nasceu de uma iniciativa da comunidade?
O indicaê foi criação minha, apenas para nomear uma ação que já acontecia. Muitos moradores nos pedem indicações de diversas coisas, ao invés de passarmos uma percepção nossa resolvemos usar o “Indicaê” para que outros moradores deixem suas indicações e assim se torna até uma forma de divulgação de prestadores de serviços locais.

Sempre foi um plano de vocês terem essa participação ativa dos moradores?
Sempre! O Jornalismo Comunitário é feito de dentro para fora. É necessário ter a participação deles, se não nem faz sentido. Os moradores movem o nosso portal. Eles que fazem os nossos conteúdos, eles que divulgam o nosso perfil, eles são o pilar de tudo isso.

“Jornalismo Comunitário é feito de dentro para fora. É necessário ter a participação deles, se não nem faz sentido”

Qual o limite geográfico das notícias publicadas?
Atualmente não temos mais um limite, infelizmente. Tentamos ao máximo manter apenas conteúdos de São Cristóvão na página, mas como não temos uma equipe tão atuante pela ausência de verba, não temos como correr atrás de tanto conteúdo do bairro. Antigamente o limite era ce regiões adjacentes, como por exemplo Itapuã, Mussurunga e Jardim das Margaridas, os bairros mais próximos.

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