Sofia Schurig: “O jornalismo tradicional menospreza muito a capacidade intelectual da juventude”
Laiane Apresentação
O incômodo com a produção dos veículos de comunicação voltados para os jovens brasileiros foi um dos principais motivos para que Sofia Schurig, 20, criasse a revista O Sabiá, veículo de mídia independente e sem fins lucrativos voltado para os jovens. “A gente se inspira muito em alguns veículos específicos, por exemplo, a New Yorker, a revista Piauí, o Wikileaks, na parte de reportagem, Une Belle Enquête, também na parte de reportagem” esclareceu Sofia. O veículo, criado dois anos atrás, acredita no potencial dos jovens e existe para impactar a formação desse público, seja dentro de sua redação, com jovens jornalistas trabalhando voluntariamente, alguns ainda com a graduação em curso, ou fora dela, transmitindo informação de qualidade para seus leitores. “Nós nos esforçamos bastante para dar sempre contextos que são importantes”.
Por que você teve a ideia de criar a revista o sabiá?
Eu estava muito inconformada em 2020 com a pandemia e com a forma que a imprensa estava tratando a pandemia, a quarentena e as inúmeras crises que estavam acontecendo e que continuam. Eu continuo inconformada com a forma que a imprensa tradicional aborda, sempre me incomodou o fato de não haver, pelo menos no Brasil, um veículo de comunicação voltado para os jovens que fosse sério. O jornalismo tradicional menospreza muito a capacidade intelectual da juventude e isso é algo muito negativo. Por outro lado também, a gente se inspira muito em alguns veículos específicos, por exemplo, a New Yorker, a revista Piauí, o Wikileaks, na parte de reportagem, Une Belle enquête também na parte de reportagem. Achei possível unir tudo isso e transformar em um veículo sério, de qualidade.
Você possui aulas, estágio, grupo de pesquisa… Como faz para gerir a revista e mantê-la em ordem? Quem faz parte de sua equipe?
A revista tem o conselho tutorial que sou eu, Bruna Dalmas, Marina Neto e Gabriel Sampaio, os editores são Giovana Batisti, Mariana Passos e o Leonardo Dresch e as assistentes editoriais que são a Carol Branco, Carla Queiroz e Sofia Albuquerque. A redação é dividida em mídia audiovisual, designer e redação escrita. Nas decisões administrativas, das decisões difíceis que muitas vezes a gente tem que tomar, por exemplo, decidir se a gente vai atrás de uma pauta ou não, eu conto muito com um apoio do Conselho, todo mundo tem uma dinâmica já de se entender.
Foi o primeiro trabalho jornalístico que você realizou?
Sim e fico muito feliz de ter sido porque todos os trabalhos a posteriori que eu consegui, principalmente trabalhos envolvendo remuneração financeira porque eu consegui ir desenvolvendo a minha própria escrita até chegar em trabalhos lucrativos. Já o meu primeiro trabalho remunerado foi na Carta Capital, em uma matéria que eu fiz com o Victor Pougy e a pesquisadora Letícia Oliveira, que é inclusive daqui de Salvador.
Quais foram os objetivos que você pensou para a revista?
De forma bem sucinta é democratizar o acesso à informação de qualidade para a juventude e com muita esperança mudar o jornalismo voltado para juventude no Brasil.
Com quem você espera que a revista converse?
A gente tem o Google Analytics que pega as características de quem entra no site e quem tá logado na conta do Google. Normalmente pelo Chrome, então a gente recebe suas estatísticas e nosso público majoritário, são jovens de 18 a 25 anos. O Google Analytics não contabiliza menores de idade, mas a gente tem alguns leitores menores de idade e eu sei disso porque eles mandam e-mails muito bonitinhos e dm e tal. Em segundo lugar está de 25 a 30, e em terceiro, na verdade, está de 50 a 60 anos, muito bacana, mas o nosso público majoritário é, de fato, adolescente e jovem adulto.
Qual maior conquista que a revista já teve? Que você viu acontecer e pensou “caramba, não esperava por isso”?
Acho que primeiro foi a questão da Carta Capital, porque uma reportagem que a gente escreveu, eu e a Letícia, onde não mostramos capturas do inquérito, nem anexou obviamente o inquérito sigiloso e as pessoas confiaram pela integridade. Foi um marco muito grande, de mostrar que a gente tem os princípios éticos. Foi muito bacana ver que a gente conseguiu manter os nossos princípios editoriais e conseguimos manter o estilo da escrita da Sabiá, que são algumas coisas mais longas e tal.
“Eu acho muito gratificante poder participar da formação da juventude para mim, é uma honra, sabe, participar da formação dos leitores, eu acho que é por isso que a gente trata com tanta responsabilidade e nós temos tantos princípios éticos e tudo.”
A revista Sabiá está no caminho que você esperava que seguisse?
Com certeza, não esperava que tivesse tão bem. Eu fico muito feliz e de novo, é muito fluido, muito autônomo para todo mundo que está lá. Eu fico muito feliz da gente ter chegado a um ponto em que a estrutura está forte. Continua com seus princípios e continua indo bem.
Você considera que a revista é diferente dos outros veículos de notícia da cidade? Por quê?
Eu não vejo nenhum veículo soteropolitano dando espaço para a juventude escrever sem ser no cargo de estagiário e sem ser fazendo matérias chamativas e clickbait e tudo mais, eu quase nunca vejo, principalmente estudantes de graduação. Então eu considero que sim e eu considero que a nossa abordagem no jornalismo. Ela é muito diferente.
“O jornalismo que é voltado, não só para informar, mas também formar um indivíduo.”
Considerando que os últimos semestres do curso estão se aproximando e com eles a rotina se aperta um pouco mais, você visualiza em algum momento dar uma pausa na revista?
Considerando que estou no segundo semestre, eu consigo viver a minha vida tranquilamente e eu não me imagino nunca dando uma pausa na revista. No momento que eu tiver que desistir da revista, foi porque eu desisti do Jornalismo e muito provavelmente eu vou retornar o meu sonho inicial de trabalhar em Psicologia ou Psiquiatria. Se isso acontecer é porque eu perdi completamente a minha esperança e minha fé no jornalismo e qualquer mudança.
Como você acha que o que você faz impacta na vida das pessoas?
A gente impacta podendo usar o jornalismo para ensinar coisas além de informar. Todos os nossos textos, que não são literários e nem artísticos, costumam ser muito complexos, do início até o fim, às vezes eles são curtos, mas ainda assim eles são muito completos. Nós nos esforçamos bastante para dar sempre contextos que são importantes, a gente não finge, não tem papel lá para a imparcialidade porque achamos que tem algumas coisas impossíveis de ser imparcial.
“Achamos um pouco ridículo tentar passar de imparcial nisso, se está impactando a nossa juventude, a nossa geração, não faz nenhum sentido a gente querer dar os dois lados de um problema se só existe um e isso pode ser uma visão um pouco radical de fato, não é uma visão que todos os veículos seguem e eu não acho que todos os veículos deveriam seguir.”