“AmarElo – É Tudo Pra Ontem”: Representatividade, luta e esperança.
Por João Pedro Araújo
Nesta terça-feira (08) a Netflix publicou o tão esperado “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”, do rapper, escritor e compositor Emicida. O documentário é um desdobramento do álbum “AmarElo” (2019) do rapper, com cenas do show gravado no Theatro Municipal de São Paulo, mas ao mesmo tempo perpassa pela história da cultura preta brasileira dos últimos séculos.
O enredo possui uma certa cronologia e uma edificação de informações impecáveis narradas por Emicida, o que torna a obra muito mais interessante e enriquecedora. Entretanto, embora tenha o show de 2019 como ponto de partida, o documentário se mostra bastante atual tanto pelo conteúdo educativo no quesito racial, quanto por retratar uma parcela desse período de pandemia. Essa produção pode ser vista como uma obra de utilidade pública, que contribui não só para a educação da população, mas também para a luta e disseminação da esperança de dias melhores. O documentário é extremamente representativo, necessário e forte para todas as pessoas que gostariam de conhecer a própria história, a história de seu povo, e para os aliados que desejem conhecer a luta que já acontece há muito tempo.
Num ano como 2020, em que a luta antirracista foi protagonista após inúmeros casos de violência brutal contra pessoas negras, o discurso trazido pelo documentário se torna totalmente atual e necessário. Seccionado em três partes (Plantar, Regar e Colher), o filme de 90 minutos traça um fio sobre a história da cultura e dos movimentos negros no Brasil, e com linguagem bastante sensível e didática, apresenta acontecimentos e personagens negros que foram de grande importância para a formação histórica e cultural do país, mas foram invisibilizados ao longo dos anos. O Modernismo e o Samba também serviram como gatilho para a narrativa do documentário, inclusive este último é posto como o centro gravitacional da criatividade brasileira no filme.
Além de toda construção de uma narrativa firme quando se trata da questão racial, o filme também fala de música. Através das imagens de bastidores do processo de criação e de gravação do álbum “AmarElo”, vencedor da categoria de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa do Grammy Latino, o longa consegue tocar o público com as cenas do Theatro Municipal, onde a música e a emoção do próprio Emicida trazem um tom substancial para a obra. Dentre as cenas que mostram o por trás da criação do álbum, os espectadores podem conferir as gravações de “Ismália”, música com colaboração da atriz internacionalmente conhecida Fernanda Montenegro, recitando o poema simbolista de mesmo nome. Além da famosa atriz, Majur, Pabllo Vittar, Jé Santiago, Zeca Pagodinho e tantos outros nomes também aparecem ao longo do documentário ao lado do rapper.
O “doc” é resultado da parceria de sucesso entre Emicida e a Netflix, e tem a realização assinada pelo Laboratório Fantasma (gravadora musical), com direção de Fred Ouro Preto e produção de Evandro Fióti (irmão de Emicida). A plataforma de streaming e a gravadora ainda terão um segundo projeto do Emicida previsto para 2021.