Adson Rodrigues: “Nós temos que aprender a lidar e fazer com que as pessoas entendam que isso é um trabalho.”

Por Jackson Souza

Graduado em comunicação pela Universidade Estadual da Bahia, manifesta sua preocupação em separar o lado pessoal do profissional ao executar o seu trabalho,  usa de sua  inevitável proximidade com certas pessoas para obter algumas informações privilegiadas. Destaca seu profissionalismo na apuração e publicação de notícias relacionadas a pessoas próximas.”Não acredito que exista 100% por cento de imparcialidade”.

 

No seu papel como profissional da imprensa, qual tem sido sua maior dificuldade em meio a todo esse cenário de pandemia, no que desrespeito a realização do seu trabalho?

Bom, devido a pandemia muitas coisas não estão funcionando normalmente, antigamente para colher a informação a gente poderia ir até determinado local para checar informações ou coisa do tipo, agora a gente tenta fazer o máximo que dá via telefone, seja por redes sociais ou ligando, claro, isso a gente já fazia mas buscamos tentar fazer isso muito mais para não precisar chegar a ter que sair, ir a campo atrás de Informação. Essa está sendo uma das maiores dificuldades, fora também o risco, porque a gente tem muito medo de ter que ir a rua ou atrás de informações, no caso, entendeu? Ter que ter algum tipo de contato físico, porque a gente também fica doente.

A imprensa foi e é de extrema importância na divulgação de ações preventivas contra o coronavírus, em trazer dados e pareceres de autoridades de saúde, mas ainda sim vem sofrendo diversos ataques, inclusive por parte de autoridades políticas. Em âmbito local, isso tem sido um problema frequente para você? Como você vê isso?

A respeito de ataques, a gente não percebeu, até então não teve nenhum tipo de ofensiva por parte de políticos mas vimos muita revolta da própria população perante as notícias que íamos o “soltando”, por exemplo, o governo do estado autorizar (aglomerações) até 100 pessoas durante o período eleitoral, então isso fez voltar a aumentar o número de casos em todo o estado, não só aqui no município (Guaratinga). Muita gente veio questionar esse tipo de atitude dos gestores e não necessariamente o veículo de comunicação, acho que é mais ou menos nessa linha, a população ficou mais revoltada com a atitude das autoridades do que necessariamente com o veículo noticioso. Acho que as autoridades também não entraram conflito, como a gente vê a nível nacional, do Bolsonaro com a Globo e a Folha de São Paulo.

Mudando um pouco de assunto mas continuando na mesma linha, os jornalistas e os meios noticiosos tiveram que se adaptar, você citou anteriormente que houve uma mudança referente as entrevistas que passaram a ser essencialmente por telefone, você pode citar outras modificações que considera que teve que fazer por questão de sua segurança e da equipe?

Para mim foi essa intensificação, de ter que fazer a apuração das informações  pelo telefone, no caso a gente teve que melhorar a internet e o plano de telefone, para poder suportar essa demanda, esse novo jeito de trabalhar, entendeu?

E por falar em demanda, o seu site, o Furo31, é de Guaratinga, mas cobre outras cidades do sul baiano, entre elas Eunápolis e Porto Seguro, com as pessoas em casa ansiando por informações, foi necessário realizar alguma alteração no site por causa do aumento no fluxo de acessos? Houve um aumento notável?

O site passou por uma mudança de layout em junho, mas não foi necessariamente por causa da pandemia, fazia parte da comemoração de 5 anos da empresa.

Por trabalhar em um cidade pequena o lado pessoal geralmente se mistura com o profissional, como você tem agido para não deixar que suas emoções influenciem no seu trabalho de modo a comprometer? Conta um pouco sobre.

Essa questão de emoções influenciarem no trabalho, eu acho meio complicado porque não acredito que exista 100% por cento de imparcialidade, mas é claro, a gente busca ser o mais isento possível para não desfavorecer ninguém citado em uma notícia, buscamos pesar dos dois lados, buscamos manter a neutralidade. É um pouco mais complicado porque se conhece todo mundo? É! Mas nós temos que aprender a lidar e fazer com que as pessoas entendam que isso é um trabalho, e se eu noticiar algo te criticando ou contando algo que aconteceu com você não significa necessariamente que eu te odeie.

E no âmbito pandêmico, você sente essa dificuldade?

Eu acredito que esse tipo de dilema também se aplica durante a pandemia, é claro que o fato de ser próximo de determinadas pessoas te favorece em ter algumas informações privilegiadas mas a gente, infelizmente, tem que dar a matéria, independente da pessoa gostar ou não.

Com todos os desafios diários que profissionais da imprensa passam, principalmente agora durante a pandemia, você consegue observar algo de positivo profissionalmente falando? Se sim, o quê? Se não, por quê?

Bom, de algo positivo eu percebi que diferente de outros anos em que se tinha muitas “fake news”, mas agora, na minha perspectiva, eu acho que as pessoas estão esperando as informações saírem em veículos de notícias sérios, do que somente receber pelo WhatsApp, é claro que vai ter uma galera que não vai seguir esse raciocínio, irão continuar divulgando sem checar a fonte antes, mas eu acho que numa escala de como acontecia antigamente e agora nesse período pandêmico, o jornalismo veio para credibilizar algumas informações, creio que são as fontes mais confiáveis.

E quanto a sua saúde psicológica, como está? Afinal é o seu trabalho lidar com todas essas informações, e diferentemente de pessoas que não são do jornalismo você não pode se dar ao luxo de ignora-las. É muito difícil?

Cara, a gente tem que enfrentar, porque nós temos que noticiar, é lógico que não gostamos de noticiar esse tipo de coisa, principalmente de vítimas que eram conhecidas, mas infelizmente entram pra estatística, temos que trabalhar.