Presa na rotina

Fernanda Pinto de Brito Bernardes

Anna desligou a TV. Ela estava horrorizada com a história de Viola, uma personagem de A Maldição da Mansão Bly.

Viola morreu e não conseguiu ir para o pós vida. Ela ficou presa num ciclo interminável de acordar, andar e dormir. Sem nunca seguir em frente. Com o tempo, Viola foi perdendo sua humanidade e esquecendo quem era.

“Ela acordava, ela andava, ela dormia…”

Anna estava incomodada demais com isso e não entendia o porquê. Ela decidiu simplesmente deixar isso de lado e ir dormir. Pensar tanto assim não ia levar a lugar nenhum.

No outro dia, ela acordou e se arrumou para assistir às aulas onlines. Por causa da pandemia, ela não podia sair para lugar nenhum e suas aulas eram pela Internet. Fazia dias que ela não encontrava ninguém ao vivo.

Depois disso, ela almoçou assistindo ao jornal. Sempre as mesmas notícias de pessoas morrendo. Anna comia e ouvia os jornais anunciando as centenas de mortes que ocorreram. Ela ficou entediada assistindo e mudou de canal. Por algum motivo, naquele momento ela lembrou de Viola de novo, mas rapidamente desconsiderou essa linha de pensamento.

A tarde passou, ela tentou estudar, assistiu TV e foi dormir.

Ela acordou mais uma vez. “Mais um dia igual.” Anna murmurou para si mesma.

Anna se arrumou e foi assistir às aulas. Na verdade, ela nem sabia porque se incomodava em assistir. Ela podia até entender o que foi dito, mas se sentia no piloto automático. Como se ela não aprendesse de verdade. Como se não houvesse reflexão sobre o assunto trabalhado.

Mais uma vez, Anna foi almoçar assistindo as notícias. Mais mortes. O olhos dela nem piscaram ao ouvir a quantidade enorme de pessoas que faleceram. Novamente, ela pensou em Viola. A personagem vivia muito em seus pensamentos desde ontem.

Essa rotina continuou por semanas. Dormir, acordar, pensar em Viola e dormir novamente.

Certo dia, ela estava na cama com insônia. Ela não conseguia dormir e seus pensamentos estavam presos na Mansão Bly. Foi ali que ela entendeu. Ela entendeu o que tanto incomodava seu cérebro.

Anna levantou, foi até o banheiro, se olhou no espelho e percebeu que ela era como Viola. Ela estava perdendo sua humanidade. Ela foi pega pela apatia. Não conseguia mais sentir tristeza pelas vítimas do coronavírus porque foi anestesiada. Todos os dias eram iguais porque ela ficou presa na rotina de não ter ninguém com quem conviver.

Ela ficou horrorizada ao perceber que estava presa e não sabia o que fazer para se soltar. Anna ficou se olhando por alguns minutos, mas não achou nenhuma solução possível para seu problema. O coronavírus não ia acabar magicamente, então ela teria que conviver com isso.

Ela apagou as luzes e finalmente foi dormir. Quando ela abriu os olhos, Anna não estava mais no quarto, ela estava dentro do lago onde Viola vivia.

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