Sem orientação profissional, exercícios físicos em casa potencializam acidentes
Lombalgia, tendinite e condropatia são algumas das lesões que podem ser causadas
Esther Morais e Laís Maia
A auxiliar de RH, Suzana Menezes, 22, treinava sozinha em casa por aulas do Youtube. Após um exercício de alto impacto começou a sentir dores no joelho direito. Um ano depois e sem ter procurado um médico, a jovem relata sentir dor até hoje quando faz algum treino mais intenso. Segundo os profissionais da área de educação física, houve um aumento no número de pessoas que, assim como Suzana, passaram a se exercitar em suas residências como uma forma de substituir as academias, que ficaram fechadas em todo Brasil por conta da pandemia. Com essa prática feita sem o auxílio adequado, os riscos de acidentes são potencializados, podendo causar lesões como lombalgia, condropatia e tendinite.
Uma pesquisa multidisciplinar realizada, durante a pandemia, pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Pelotas, com 380 adultos residentes do Rio Grande do Sul, aponta que metade dos entrevistados relataram a casa como local de prática de atividades físicas e 64,8% não tiveram auxílio de um profissional. Segundo especialistas, isso gera uma carência na técnica e adequação de exercícios para os limites fisiológicos do aluno, que pode causar acidentes, sobretudo, em forma de lesões musculares e articulares.
Os traumas musculares podem ser diretos, contusões causadas em quedas ou impactos, ou indiretos, quando o músculo contrai-se ou distende-se independentemente de contato. De acordo com o fisioterapeuta Emanuel Dantas, uma ocorrência comum em treinos é a contratura muscular causada por um erro na realização do exercício ou por ansiedade e estresse. “[A contratura ocorre] quando você passa a mão no corpo e percebe situações mais tensas, pontos dolorosos que nos dão a informação de que a estrutura não está legal. Existem técnicas de fisioterapia para desativar esses nódulos, terapia manual e dispositivos.”
Outro trauma recorrente é a lombalgia, mais conhecida como dor nas costas. Profissionais da área apontam que ela pode ser causada pela falta de exercícios, mas em caso de quem se exercita, é preciso tomar cuidado no levantamento de peso impróprio e no alinhamento da coluna, outras possíveis causas dessa contração. O problema atinge mais de 80% da população mundial, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Pós-graduado em medicina do esporte pela Universidade de São Paulo (USP), Fábio Costa explica que as lesões articulares englobam traumas degenerativos e agudos provenientes de um impacto. Este último pode ser provocado por um erro de posição, excesso de peso ou impacto de um exercício, como ao subir e descer escadas.
Foi o caso de uma paciente do especialista em joelho, José Carlos Fonseca: “Uma paciente minha mora no 16º andar e com a pandemia ela começou a fazer exercício de subir escada. Com esse excesso, ela desenvolveu uma condropatia [lesão da cartilagem], começou a desgastar a região e quando chegou no consultório estava em crise de dor”.
Existem outros tipos de lesões além das musculares e articulares, como a tendinite, inflamação que atinge o tendão. De acordo com ortopedistas, a síndrome pode ser provocada por movimentos repetidos ou, na prática de exercícios que envolvem o tendão calcâneo, conhecido como “Tendão de Aquiles”, ombro, joelho, cotovelo e punho.
Como evitar acidentes
A orientação básica é ter o acompanhamento, mesmo que virtual, de um profissional. O treino será personalizado de acordo com as limitações fisiológicas do aluno. Evita-se a prática de movimentos errados e excessos nos treinos, assim há uma diminuição dos riscos de lesões. Além disso, especialistas recomendam a prática de aquecimentos e alongamentos que ajudam a movimentar os músculos e as articulações antes do treino. Ter alimentação saudável e uma hidratação constante também ajudam a fortalecer o corpo e evitar traumas físicos.
Se mesmo com as precauções anteriores, houver um acidente, a sugestão médica é usar gelo nas primeiras horas, bolsa de água quente após 48h e, durante esse período, ir ao médico. De acordo com a intensidade e persistência da dor o período de tempo sugerido pode ser abreviado. Também é importante não se automedicar e suspender os treinos até que a área se recupere.
Porque se exercitar na pandemia
Um estudo da Fiocruz, realizado em parceria com a UFMG e a Unicamp, aponta que 62% dos brasileiros deixaram de realizar exercícios físicos durante a pandemia. Essa inatividade que atinge mais da metade da população trouxe muitas ameaças. Ao considerar o grau de risco, doenças cardiovasculares, obesidade e hipertensão apresentam menor fator de agravamento quando comparadas ao sedentarismo, como aponta um estudo publicado pelo British Journal of Sports Medicine. A pesquisa também afirma que a falta de exercícios está associada a maiores chances de internação e morte pelo coronavírus, sendo decisivo no agravamento de pacientes positivos.
A Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) aponta que, ao combater o sedentarismo, reduz-se o risco de doenças cardiovasculares, metabólicas, ortopédicas, psiquiátricas, dentre outras. Ainda enfatiza que a prática regular de exercícios pode trazer melhora da defesa imunológica, permitindo que o organismo se torne mais resistente a infecções. Isso não quer dizer que pessoas fisicamente ativas estejam imunes ao SARS-COV2, mas esse efeito protetor pode ajudar nas condições gerais do praticante e, portanto, em sua resposta potencialmente melhorada a agentes infecciosos.
Existem inúmeros benefícios da prática de atividade física como, por exemplo, para a saúde mental. O professor de ginástica Tarcísio Marques explica que os exercícios físicos ajudam a controlar doenças como ansiedade, depressão e estresse, além de produzir hormônios do prazer e ser uma forma de socializar, já que o distanciamento social, na pandemia, trouxe consigo a solidão. Para além dos resultados estéticos, a atividade física é uma fuga da realidade. Ao prática-la, as pessoas conseguem focar, relaxar e gastar energia.
A estudante de psicologia, Ingrid Moraes, 19, diagnosticada com ansiedade, conta que passou a ter crises durante a pandemia devido ao isolamento social, extrapolando no consumo de alimentos calóricos. Para ela, os exercícios físicos contribuíram para controlar essa situação, pois, canalizou a energia acumulada para os treinos, deixando, assim, de comer em excesso.
A estudante de pré-vestibular, Ágatha Coutinho, 19, também acredita que a atividade física a ajudou no controle de sua ansiedade, principalmente devido à disciplina que adquiriu com os treinos. Ela afirma que os exercícios físicos a fazem se sentir bem, pois, é um momento em que consegue desestressar a rotina puxada de estudos.
Quanto de atividade física as pessoas devem fazer?
A OMS tem como um dos seus princípios que todos podem se beneficiar com o aumento da atividade física e a redução do comportamento sedentário. Sua recomendação é a de que adolescentes de até 17 anos precisam de pelo menos 60 minutos de exercícios moderados a vigorosos por dia. Adultos com idades entre 18 e 64 anos, além de pessoas que vivem com doenças crônicas ou com deficiência, necessitam de pelo menos 150 minutos de atividades moderadas ou 75 minutos de exercícios vigorosos por semana. Para ela qualquer tipo de atividade física conta.
É permitido treinar sozinho?
Diego Ramirez, personal trainer, aponta que não há problema em treinar sozinho. O exercício pode ser até eficaz se a pessoa que estiver praticando possua certo conhecimento em relação à modalidade exercida. O melhor dos mundos seria que todos sempre treinassem acompanhados, já que aqueles que se exercitam por conta própria estão mais expostos aos riscos de acidentes, mas o auxílio de um profissional, na maioria das vezes, requer investimento financeiro e nem todos conseguem ter acesso. Ele recomenda que as pessoas que não têm condições para arcar com as despesas do acompanhamento profissional se exercitem sozinhas, pois, considera melhor do que não praticar nenhuma atividade.
Confira a lista de plataformas gratuitas para fazer treinos em casa
- Nike Training Club— Aplicativo para IOS e Android
- BTFIT— Aplicativo para IOS e Android
- Adidas Training— Aplicativo para IOS e Android
- Lu Oliveira— Canal no YouTube
- Vinícius Possebonv Canal no YouTube
- Fitness Blender— Canal no Youtube
- Live Treinos Norton Mello— Instagram: Norton Mello
- Lives SmartFit—Instagram: Smart Fit
- Live BodyTech— Instagram: BodyTech