Avanço da vacinação estimula a volta da vida romântica “ao vivo”

Com mortes por Covid em queda desde outubro, solteiros e casais  encontram possibilidades de se relacionar presencialmente com mais segurança

Lucas Dias e Elis Freire 

O avanço da vacinação mudou a forma de os brasileiros se relacionarem romanticamente em relação ao período mais grave da pandemia. Com mais de 50% da população imunizada desde outubro, as relações amorosas e os encontros, interrompidos pelo isolamento social, estão mais frequentes. Apesar do medo da contaminação ainda existir, solteiros e casais encontraram maneiras de se encontrar presencialmente. “A pessoa estando vacinada e eu também, não vejo problemas”, argumentou Felipe, um dos jovens entrevistados.

Durante a pandemia, os modos encontrados para manter relacionamentos amorosos foram diversos, como o uso de aplicativos de relacionamento e redes sociais. O cenário dos encontros românticos vem mudando, juntamente com o avanço da vacinação da população adulta brasileira. Dados de uma pesquisa do aplicativo de relacionamento Inner Circle levantados em setembro de 2021 mostraram que os solteiros que mencionaram ter sido vacinados em seus perfis têm 45% a mais de chances de encontrar um match do que aqueles que ainda não foram imunizados. Segundo o Consórcio de Veículos de Imprensa, no dia 20 de outubro de 2021 o país atingiu 50,6% da população adulta com duas doses.

A partir do segundo semestre deste ano, a flexibilização das restrições sanitárias se consolidou em vários estados. Volta às aulas, bares abertos, shows e eventos com maior capacidade. A paquera presencial também foi impulsionada. Mas, as medidas preventivas ainda são fatores considerados para os encontros ao vivo. O Tinder, por exemplo adicionou uma ferramenta que permite aos usuários adicionar adesivos ao perfil, nos quais se lê: “use máscara” ou “vacinas salvam vidas”.

Sofia Mascarenhas em um dos seus lugares favoritos para encontro (FOTO: arquivo pessoal)

Sofia Mascarenhas (18) ficou assustada nos primeiros meses da pandemia e deixou de marcar qualquer tipo de encontro. Em outubro de 2021, já totalmente imunizada contra a Covid-19, ela se sentiu bem mais segura para ir a bares e shows e  principalmente à praia, um de seus locais favoritos em Salvador.

A quantidade de parceiros(as) foi menor do que antes. “Antes da pandemia saía com várias pessoas e sem nenhum critério, mas após a pandemia consigo contar nos dedos com quantas pessoas me relacionei”, afirmou. A psicóloga Angélica Portugal, especialista em Terapia Comportamental, confirmou que os solteiros estão buscando novos jeitos de viver a vida romântica na pandemia. “As pessoas queriam inovar nos encontros, variar os parceiros. A busca nesse novo normal é por “algo a mais”. As relações estavam cada vez mais líquidas. Muito relacionado com viver tudo , no aqui e agora”.

Felipe Silva (20) ficou mais de um ano isolado seguindo as medidas preventivas. “Eu não fiquei abalado por não poder me relacionar afetivamente ou sexualmente”, contou. Ambos os jovens usaram aplicativos para facilitar as paqueras. Felipe argumentou que não se adaptou tanto à interação estritamente virtual, mas afirma que utilizou o Tinder. “Minhas intenções eram fazer amizades e ver o que rolava depois, sabe?”, disse. Já Sofia tinha a intenção de encontrar um parceiro fixo para a quarentena, porém acabou utilizando os apps para conversas virtuais e encontros casuais. No ano de 2020, segundo dados das próprias empresas, o Tinder bateu um recorde de 3 bilhões de interações em único dia e o Happn registrou mais de 3 milhões de novos usuários brasileiros.

Felipe Silva (Foto: Arquivo pessoal)

A partir de julho de 2021,Felipe voltou a se encontrar com ficantes. Usou máscara nos ambientes fechados e álcool em gel. O estudante de Salvador considerou a vacinação importante para a volta dos relacionamentos românticos. Para Poema Torres (19), de Irecê (BA), a vacinação completa também foi um ponto de virada. “Estando propriamente vacinados e estando nos cuidando, mesmo com a flexibilização, não tenho medo, apenas um pouco de receio”, afirmou quando perguntada sobre o atual medo de se beijar ou ter relações sexuais. O urologista Danilo Galante, entrevistado pelo jornal Metrópoles em 13 de julho de 2020, explica que não existe um sexo totalmente seguro contra a Covid. Afirma, porém, que medidas como a troca de testes PCR e a higiene do corpo e das mãos são importantes para diminuir as chances de transmissão.

Poema Torres (Foto: Arquivo pessoal)

Poema relatou que era uma pessoa bem calorosa, mas cortou qualquer tipo de interação ao vivo, por conta da pandemia. Ela explicou que a reclusão prolongada transformou totalmente sua forma de se relacionar. “Senti que fiquei mais fria, menos sociável e comecei a não gostar tanto de contato físico quanto gostava antes. De certa forma me senti mais apática”. A psicóloga Angélica Portugal e

xplica que o momento de pandemia gerou reações completamente diferentes. “Pode ter gerado reações e comportamentos como ‘tudo ou nada’ e também mudanças em se adaptar à solitude. Ser uma boa companhia para mim mesmo e não precisar socializar.”

Amor à distância

Clara e Simon na praia, um dos lugares onde se encontram (Foto: Arquivo Pessoal)

A vacinação também representou a oportunidade do encontro para casais que viveram quarentenas separadas. Clara Morais (20) e Simon Urpia (22), ambos de Salvador, estão juntos há mais de 4 anos, desde o Ensino Médio. Eles nunca imaginaram que teriam que manter por tanto tempo o relacionamento de forma virtual. Os pais de Clara estão no grupo de risco da Covid-19. Pelo medo da doença, o casal passou 15 meses sem se encontrar. “A gente nunca tinha passado tanto tempo sem se tocar, e o toque é muito importante no relacionamento. A saudade foi quase insuportável com mais de 1 ano de pandemia”, afirmou Clara.

Para contornar a situação, os dois fizeram o máximo para se manter presentes na vida um do outro: assistiram filmes por videochamadas, fizeram sexting – sexo por mensagens de texto- e estavam sempre conversando pelas redes sociais. No dia 27 de Junho de 2021, mais de um ano depois, eles tiveram o primeiro encontro presencial: Simon tocando violão para Clara, ambos de máscara.

Em 20 de julho de 2021 eles se viram novamente, dessa vez se beijando e se relacionando normalmente. Clara relata que o principal fator para a decisão de voltar a se encontrar foi a vacinação completa dos pais e a certeza de que ela e Simon estavam se protegendo contra o Coronavírus. Ela acrescenta ainda que há uma preferência em se encontrar em casa ou em locais abertos, evitando aglomerações. “A gente tem priorizado se ver um na casa do outro”, disse. 

Mariana e Liam (Imagem: Arquivo Pessoal)

Já para Maria Mariana Rocha (26) essa vai ser a oportunidade de encontrar pela primeira vez o namorado Liam Paul Foster (27) do País de Gales. Eles se conheceram através de um chat de um jogo baseado na série “Game of Thrones”.

Os dois começaram a jogar juntos e logo desenvolveram uma amizade. Eles migraram para outras redes sociais, mas continuaram jogando. Surgido um sentimento romântico, Liam então propôs que eles se encontrassem no “Rock in Rio”, porém a pandemia impediu os planos. Tanto Maria quanto Liam temiam contaminar os pais. Atualmente, os dois estão completamente vacinados e planejam finalmente se encontrar pela primeira vez em dezembro.

 

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