Vitor Torres: “Hoje falar de E.C. Bahia e não lembrar do Sou Mais Bahia é muito difícil”

Roger Caroso e Lucas Guimarães

O canal da “Sou Mais Bahia” (SMB) no Youtube possui mais de 140 mil inscritos e 51 milhões de visualizações. “Outros torcedores e profissionais de rádio e que eram amigos nossos se juntaram para poder criar os seus canais. Hoje a gente diz que tem a network SMB”. Vitor junto ao seu amigo Matheus “Barbaço” produzem vídeos diariamente, desde notícias e entrevistas com jogadores do Esporte Clube Bahia, até lives pré, durante e pós as partidas. Um produto , que começou no WordPress, virou um espécie de rede SMB com produção de conteúdos de maneira não tradicional, o que, para Vitor, a mídia tradicional não consegue: “A mídia tradicional vai demorar muito para poder chegar nesse entendimento. Eles tem algumas limitações que nós como canais independentes não temos”, ressalta.

Depois da criação e do sucesso do site, como surgiu a ideia do canal no Youtube?

Por exemplo, as pessoas liam as matérias, mas não se sentiam cativadas, não sentiam a emoção naquele negócio, elas ouviam a rádio, mas e aí? Cadê a cara do cara que grita gol? Cadê a cara do cara que comenta? Os caras são Bahia ou não são? Então a gente já começou a fazer algumas produções audiovisuais para o Facebook, mas a gente precisava ir para uma plataforma que nos desse mais abrangência e que permitisse a gente ser remunerado pela produção de conteúdo e o Facebook ainda não era. Por isso a gente migrou pro YouTube. O objetivo foi ter um representante com a figura, uma caricatura de um torcedor que pudesse dialogar com você e mostrar essas emoções numa plataforma em que você tivesse facilidade de ter o conteúdo. De ter aquele acervo fácil para que você na palma da mão conseguisse, ter acesso a todos os vídeos, notícias, opiniões. Foi nesse momento que a gente virou a chave. Hoje falar de Bahia e não lembrar do Sou Mais Bahia é muito difícil.

“O objetivo foi ter um representante com a figura, uma caricatura de um torcedor que pudesse dialogar com você e mostrar essas emoções numa plataforma em que você tivesse facilidade de ter o conteúdo“

O SMB tem uma espécie de network de canais e fazendo até transmissões de jogos. Com essa diferença entre as mídias tradicionais e independentes o panorama de consumo do público tende a mudar cada vez mais?

A network surgiu como algo espontâneo, outros torcedores e profissionais de rádio e que eram amigos nossos se juntaram para poder criar os seus canais, hoje a gente diz que tem a network SMB. A gente participa do canal deles, eles participam do nosso. Eu fico ali meio que como um consultor, vamos crescendo todos junto nesse cenário. Eu até tenho percebido que as mídias tradicionais têm visto isso como uma ameaça. Alguns acontecimentos recentes apontam que tem gente se incomodando. Mas não é o nosso objetivo entrar em disputa com ninguém, muito pelo contrário, é de complemento. A maneira como o torcedor tem consumido informação e entretenimento tem mudado e não à toa. As empresas estão começando a se mobilizar para criarem novos personagens. Como acontece com o Globo Esporte (GE), que hoje já está no YouTube, estão tentando fazer um trabalho lá, mas ainda assim é muito engessado, sabe? A mídia tradicional vai demorar muito para poder chegar nesse entendimento. Eles têm algumas limitações que nós como canais independentes não temos. A gente de maneira independente pode falar da maneira como a gente quiser. O torcedor já abraçou e já assumiu que essa é a nova maneira de se comunicar e de se informar.

O canal mistura o lado opinativo do torcedor com o lado jornalístico, como vocês conseguem lidar com ambos? O lado mais torcedor já resultou em algum problema?

Eu e Matheus temos personalidades parecidas, mas no canal a gente complementa muito, porque às vezes ele é o cara um pouco mais informativo, mais calmo. Eu sou um pouco mais enérgico, um cara que fala um pouco mais na emoção de torcedor, mas sempre tendo muita responsabilidade. A gente nunca teve grandes problemas com relação a isso, obviamente que algumas opiniões incomodam a imprensa ou também o clube, mas é normal. Por exemplo, tem um episódio até que é engraçado. O Bahia cai (para segunda divisão) e “Barbaço” esculacha o presidente do Bahia, xinga ele de todos os nomes possíveis. Mas aí, passa o ano e a gente também entende que acaba pesando a mão em alguma opinião. A gente não tem problema nenhum em pedir desculpas ou falar que foi no calor da emoção. Agora recentemente, num vídeo em que a gente fez uma entrevista com o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, Matheus coloca um trecho daquela música do Toy Story, “Amigo estou aqui”, aí o pessoal começou a cair na brincadeira, virou meme nas redes sociais, mas é isso, torcedor é isso.

Por não serem uma mídia tradicional, vocês foram tratados de forma diferente pelos dos profissionais de dentro do clube no começo do canal?

Isso passa muito do que é o entendimento da vida e educação de cada um. O canal carrega muito do que a gente é como ser humano, para pedir respeito, a gente tem que respeitar. Não vou dizer amizade, mas nós temos um convívio muito bom com os funcionários, seja ali roupeiro, massagista, porteiro, presidente, assessor, profissional da área de comunicação, enfim. A gente consegue dialogar muito bem, obviamente que nem todos vão amar e alguns podem até odiar, mas é normal, faz parte. Vai do entendimento da profissão e da maturidade que cada um tem para receber as críticas. Também vai de assumir do nosso lado da maneira como a gente se comporta, da maneira como a gente emite a nossa opinião, sem necessariamente atingir ninguém de forma direta, apesar de que às vezes é necessário. Mas é uma relação tranquila, a gente tem boa aceitação.

Vitor Torres, Guilherme Bellintani e Matheus “Barbaço”/Reprodução: instagram @vgatorres

Com o avanço do SMB, o que você acha e acredita sobre cada vez mais canais e mídias inspirados no seu trabalho aparecerem?

Com relação à concorrência e surgimento de novos canais, eu acho massa. Ainda mais aqueles que saem da audiência do “Sou Mais Bahia” para se tornarem canais. Se espelham e querem fazer um trabalho bacana. Surgirão cada vez mais canais e a gente tendo a oportunidade de fazer amizade de trazer para perto da gente, nessa comunidade todo mundo cresce junto, em um padrão, todos se fortalecendo. Por outro lado, também me tira da zona de conforto, porque cada um traz uma característica, traz uma coisa nova, então eu preciso estar sempre um passo à frente. Mas tem que estar sempre antenado em tudo. Eu estou ali assistindo a todos os canais para poder ver o que que está tendo de diferente.

E agora olhando para o futuro, o que esperar dos meios de comunicação no estado, tendo em vista que os olhares do país irão se voltar para cá com a chegada do Grupo City? 

Eu acho que vindo o Grupo City, a comunicação do clube vai se fechar um pouco para parte do futebol. As pessoas vão ter que cada vez mais recorrer à mídia alternativa para poder ter algo que elas já não tinham com o clube. A gente sabe que o modelo de comunicação deles lá é mais fechado e tudo mais Talvez a gente não tenha tanta informação, vai ter que ter um trabalho um pouco maior para isso, eles realmente se fecham nesse modelo europeu. A questão de dar opinião…  vai ser um ano de prato cheio para gente poder explorar isso. Vai ser tudo muito novo, então a gente vai ter que estar atento, cada vez mais próximo do torcedor.    

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