Danilo Ribeiro: “A distância tira a visceralidade do acontecimento”

Eliomara Sousa

O repórter e apresentador do “Globo Esporte Bahia” considera que o pior  da pandemia para o jornalismo esportivo foi não poder narrar histórias dos gramados e os torcedores: “Ver a comemoração de um título com o estádio vazio é estranho demais”. De forma descontraída, o jornalista evidencia traços marcantes da sua relação com o telespectador. “Sempre que eu estou perto das pessoas mais simples, a comunicação flui melhor”, diz. Em entrevista realizada por vídeo chamada, Danilo comenta a nova rotina dentro e fora dos estúdios.

Você sempre usou o bom humor nas suas reportagens ou quando comanda o GE. Como tem sido manter o tom nesse período?

O período tem sido muito chato, muito chata a pandemia. Porque a minha comunicação é popular por excelência. Sempre que estou perto das pessoas mais simples a comunicação flui melhor. A partir do momento que provoco e o cara responde, aquilo rende um desempenho muito melhor da minha parte. E isso meio que diminuiu bastante. Não digo que acabou, porque nós ainda vamos para rua e fazemos algumas coisas, com muito cuidado. O que gostava era de abraçar, beijar, e motivar para que as pessoas se expressem na sua essência maior. Está chato. A gente continua fazendo o jornalismo, só que os desafios são bem maiores. A comunicação a distância do ponto de vista informativo acontece. Mas do ponto de vista comportamental, de explorar o comportamento das pessoas, se tem um limitante muito grande que é a distância. E a distância tira o molho, a visceralidade do acontecimento.

O que mudou na cobertura dos jogos nesse período de pandemia?

Olha, se você perguntar, muitos jornalistas vão dizer: “Rapaz, é até bom que a gente não escuta os xingamentos das torcidas”. Mas para mim, que sou muito voltado para humanizar as reportagens, ficou muito chato. Porque a gente que trabalha com televisão, a instantaneidade da informação não é o nosso forte. É o forte da internet, do rádio e de outros meios. Quando o Globo Esporte vai ao ar, no outro dia, todo mundo já assistiu os lances do jogo. Se nos atermos a mostrar isso, provavelmente não vai ter uma boa audiência. Não vai ser atrativo o programa. Porque todo mundo já viu aquilo no celular. A pergunta sempre é: “Qual história que você vai contar para surpreender?”. Sempre que íamos nos estádios essa história estava atrelada às arquibancadas. Costumo dizer que eu tenho mais compromisso com a tia do picolé do que com jogador de futebol. Chego no estádio e não olho para o campo, olho para o porteiro, para aquele maluco que grita lá. Porque essas pessoas também fazem parte da sociedade, embora não sejam tão reconhecidas quanto um doutor. A sociedade é feita do povo também, e isso sempre me encantou. Quando você chega e não tem essas pessoas, olha para um lado, para o outro e diz: “Lascou! E agora?”. Agora que o público espera que você continue trazendo um produto atrativo. Teve um jogo específico do Bahia que eu narrei contando o comportamento do presidente Guilherme Bellintani. Outras partidas que você busca o som ambiente do estádio. Um dia que a pauta foi o locutor que estava lá. Você não pode levar para quem está em casa apenas um jogo. Tem que ter uma coisa a mais. A gente consegue levar o conteúdo de qualidade. Mas é chato pra caramba nessa época de pandemia.

Alguns fatos se destacaram no futebol durante a pandemia. Como exemplo, é possível citar a Copa do Nordeste e a Sul Americana. Algo te marcou muito a ponto de pensar “Caramba! Seria muito melhor se não estivéssemos em um período pandêmico”?

Me marcou a final da Copa do Nordeste que cobri há quase duas semanas. Eu estava lá em Fortaleza cobrindo o jogo entre Bahia e Ceará. Ver a comemoração de um título com o estádio vazio é estranho demais. Porque a fotografia que vem à mente é sempre o estádio cheio. Mas, por outro lado, nessa partida também me surpreendeu positivamente a presença de poucos torcedores. A CBF, nas finais, pela primeira vez liberou que 20 torcedores de cada lado assistissem à partida. Então eu pude contar a história a partir desses torcedores. Ao mesmo tempo que eu estranhei a ausência daquela massa de torcedores, eu criei positivamente um sentimento de voltar a falar com o torcedor em estádio. Esse jogo foi um marco tanto positivo quanto negativo. 

Quais mudanças você notou dentro do estúdio, na rotina, por conta desse período?

A TV Bahia, nesse ponto, é muito cuidadosa. Você dá dois passos e se bate no álcool em gel. Tem sinalização de tudo. O estúdio é relativamente grande, o que permite distanciamento. A principal mudança que teve é que antes quando ia para o estúdio colocava o equipamento, que é a lapela e o ponto, com o assistente de estúdio muito próximo, ajudando. Agora não, eles higienizam o equipamento, colocam lá em cima da mesa e falam ‘te vira, pião’ [sic] e a gente tem que se virar. Claro, o momento requer isso. Não poderia ser de outra forma. Também na maquiagem eu tive que aprender que a base passa por aqui, por ali. Porque a nossa maquiadora, Rose, está em casa. A maquiagem lida diretamente com a boca, com o olho, por onde é a entrada do corona [sic]. Como a maquiagem lida diretamente com essas áreas, cada um que faz a sua. Claro que a mão higienizada nesse momento, que eu higienizo antes e ‘pau pra dentro’ [sic].

Qual o maior desafio durante a pandemia?

O maior desafio é contar história de treino. Sempre foi o tal do treino de futebol. Tu pegar o treino do primeiro dia do ano é a mesma imagem do final do ano. Desde que impediram a gente de filmar a parte importante, que é o treinador montar os times. Já tem muitos anos que cobrir treinos ficou chato demais. Porque os clubes viraram provedores de conteúdo. O filé da coisa eles acabam colocando nas redes sociais e deixam a gente filmar o que é bacana, roda de bobinho, grandes coisas aquilo ali agrega. Já tem um tempo que isso ficou chato e na pandemia ficou mais chato ainda. Porque quando a gente ia para o estádio, para o CT (centro de treinamento) e filmava a roda de bobinho, nós conseguíamos fazer uma imagem de um passarinho voando que se associava à bola e fazia uma poesia em torno daquilo. Pegar outras imagens com o olho jornalístico que fugissem do óbvio e ajudassem a contar aquela história. Só que agora a gente recebe as imagens do clube. Normalmente imagens abertas que não mostram muita coisa. Nós somos obrigados a contar uma história em cima daquilo. A gente conta. Mas como eu lhe disse muitas vezes é desafiador para caramba! 

Qual a primeira coisa que você pretende fazer, como repórter ou apresentador, quando acabar a pandemia?

Vou voltar a entrar na casa do povo. Estou com saudade. De entrar, a mulher oferecer um cuscuz, eu comer lá, ganhar intimidade e contar uma história única. Porque nesse período a gente está com muita limitação para entrar na casa das pessoas. Então assim, do ponto de vista profissional embora eu esteja na apresentação, a minha essência é na reportagem. Se você perguntar: “Danilo, o que você é mesmo, que desenvolveu a vida toda?” É repórter. Eu gosto de suadeira, de pingar suor na testa, tomar sol na cara, entrar na casa do povo e ver gente. Então, tudo o que eu vou querer fazer é entrar na casa das pessoas e contar novamente grandes histórias que surpreendam todo mundo.

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